quinta-feira, 2 de abril de 2009

Sonho ou pesadelo?


Quando se está com fome, a vontade que dar é comer aquele prato dos sonhos, o que te deixa em êxtase com a precípua e maravilhosa sensação de degustar a apetitosa guloseima.
Quando se está com sede não dá para pensar em outra coisa a não ser num copo de água bem geladinha, daquela que a gente só encontra no açude Caldeirão, lá em Piripiri.
E quando se está doente? A vontade é de estar no melhor hospital do mundo e sendo atendida pela equipe mais profissional e gabaritada, mas acima de tudo que seja “ser humano”, que tenha sentimentos, que seja igual a nós, digamos “seres inferiores”.
Explico: somos inferiores sim, na condição social e econômica, mas somos superiores pela maneira de ver e pensar o mundo e, principalmente, o nosso próximo.
Escrevo agora não no hospital dos sonhos e certamente, nem gostaria de estar aqui. Mas o destino me trouxe. Aliás, trouxe todos nós para uma enfermaria, onde não temos lençóis, nem bebedouros e às vezes nem um lugar digno para acompanharmos nossos doentes. Estou sim, no Hospital Getúlio Vargas, onde a maioria dos profissionais é eficiente. Não posso negar! Mas falta algo. E este algo é a parte das Relações Humanas. Essa que nós, “seres inferiores” tanto prezamos.
O “atender a um favor que pedimos”, “uma resposta digna para nossas indagações”, um tom de voz condizente com o nosso”... Será que é sonhar demais??
Talvez!
Mas o que vi na televisão e que talvez jamais pensasse em estar nem mesmo próximo, estou sentindo na pele: são macas pelos corredores e, às vezes, até insuficientes; pessoas passando horas em agonia sem serem atendidas; respostas ignorantes; desprezo de seres humanos. Claro!... Tudo isso... com algumas raras exceções. Daí, pergunto-me: meu Deus... onde estou? Mas Tu bem sabes!
Minha mãe... Ah! Minha mãe! Essa é a parte mais dolorosa desta história. Não quer mais conviver conosco neste mundo e isso me deixa numa situação muito desconfortável.
Tomar um coquetel de medicamentos não é a saída para os problemas dela, mas infelizmente o psicológico dela não age igual ao meu.
E estamos aqui, neste que era pra ser “nosso sonho de salvação”, como acontece com a sociedade, desde que começaram a se formar os primeiros médicos, curarem as primeiras doenças e inaugurarem os primeiros hospitais.
Talvez o que falta na vida dos profissionais de saúde seja um “enxergamento para dentro de si”, “projetar-se para o seu eu” como ser humano e comparar isso com o próximo. Quem sabe assim não teríamos pelo menos “uma” razão pertinente de estar num ambiente excessivamente fatigante.
Soube de um hospital novo que o governo inaugurou, mas que ainda não sei ao certo quem deve ir para lá.
Lembrei, neste exato momento, de um texto do Rubem Braga (“Luto da família Silva”) que fala de mais “um silva que morreu na vala comum”. Infelizmente, sou também mais uma silva, mas felizmente minha mãe “ainda” está viva.
A única coisa que sei é que na verdade tenho de pensar no HGV como meu “sonho de realidade” para a cura e assim sair com minha mãe bem e, acima de tudo “viva”, apesar de estar vivendo um intenso pesadelo.

Auricélia Brito
Teresina-PI, 07/06/2008.

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