terça-feira, 17 de maio de 2016

O desprezo pela Plurissignificância da Língua Portuguesa

       Nessa última semana fiquei preocupada e de certa maneira assustada com o que observei nas redes sociais, quando vi dois casos de reputação de pessoas de bem sendo arremessada ao lixo.  O primeiro foi um empresário do Piauí e o segundo foi um Professor e Advogado maranhense. Os dois foram alvos de pura falta de conhecimento da plurissignificância de nossa Língua, em especial da interdiscursividade e das figuras de linguagem presente nos discursos.
Os dois supracitados escreveram textos irônicos e cheios de metáforas em suas redes sociais sobre a troca de presidente, o que lhes causou séria dor de cabeça, quando seus textos foram "recortados" e divulgados em redes sociais e matérias da imprensa, fazendo-se os piores julgamentos, dentre eles o de preconceito e racismo.
Não sou nenhuma doutora em Linguística, mas sou professora de Língua Portuguesa, com pós-graduação em Metodologia da Leitura e da Escrita, o que me proporciona um gosto exacerbado pelo estudo da Análise de Discurso, em especial a recepção e feedback de discursos, sejam eles falados ou escritos.
Infelizmente, o que acontece atualmente é que a grande maioria das pessoas vê como boa escrita somente aquela em que não há "erros de Português", digo, somente aquelas em que seguem os padrões da gramática normativa. E esquecem que um texto vai além desta estrutura extrínseca. Um bom texto também precisa ter uma boa estrutura intrínseca, que são as ideias bem colocadas, presentes na sintaxe e na semântica dos discursos. Isso significa que para escrever e/ou entender um Bom Texto faz-se necessário um conhecimento da Linguagem e da Construção de Sentido do mesmo. E para isso, um estudo de conceitos como Intertextualidade, Interdiscursividade, Funções de Linguagem, Sentido Figurado, Denotação e Figuras de Linguagem, como Ironia, Metáforas, Metonímias e Eufemismo são de suma importância.
O grande problema é que tudo isso está sendo deixado em segundo plano em nossa Língua. E a maioria das pessoas não consegue ter um senso crítico e nem perspicácia para entender as entrelinhas, e se tornam mecanizadas por uma Língua Estática, regida por uma gramática normativa.
É triste ver que grandes pensadores, estudiosos e formadores de opinião não possam usar seu conhecimento profundo da Língua na hora de escrever e/ou falar porque podem ser "mal interpretados", e aí se tornam refém de um paradigma, que atualmente é a linguagem objetiva, preguiçosa, das palavras isoladas em seu contexto, onde o leitor/ouvinte não precisa ter o trabalho de interpretar as multifacetas do texto. É como se dissessem que "quebrar um galho" deve ser interpretado apenas como "quebrar o galho da árvore".
Queridos leitores, sejamos mais sensíveis, mas críticos, mais curiosos, mais perspicazes na hora de ouvir e/ou ler um discurso e, assim, não julgar de maneira errônea o que o autor realmente pretendeu expressar.
É decepcionante ver nossa Língua tão bela e plurissignificante ser usada somente em sua forma mais rústica, bruta e inocente, sendo que há inúmeras possibilidades e elas estão aí para serem usadas. Então, cabe a cada um apenas estudar um pouco mais e usá-la para expor pensamentos, opiniões e sentimentos, dos modos mais variados possíveis. Sinto-me feliz quando vejo um texto cheio de significados, onde o locutor faz-nos leitor ativo, despertando para as mais variadas relações semânticas, e nos faz ter as mais diferentes reações.

Por discursos plurissignificantes em nossa Língua, sou a favor!!!